Série Inclusão: 3ª edição trata da inclusão social e a realidade nas areninhas com o Projeto Esporte em 3 Tempos

30 de junho de 2023 - 15:36

Atualmente, o Programa Esporte em 3 Tempos atende mais de 26 mil pessoas, sendo que 413 povos são indígenas, 255 são pessoas com deficiência física, 89 com deficiência intelectual, 26 com motora, 19 com visual, 14 com auditiva e 75 com outras deficiências. O Esporte em 3 Tempos desenvolve atividades inclusivas, segundo a OMS, no qual orienta que crianças e adolescentes com deficiência (seis a 17 anos) se exercitem 60 minutos, no mínimo, três vezes por semana com atividade moderada.

Essa prática inclusiva de atividades do projeto leva os nossos alunos com deficiência, a participarem das aulas assiduamente, assim promovendo a autoestima, socialização, integração, afetividade, melhorando suas habilidades motoras e físicas, reduzindo consideravelmente os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes, problemas relacionados a baixa imunidade, além dos transtornos de fundo emocional, sintetizando as idas aos médicos, exames e remédios.

A prática de atividade física para as pessoas com deficiência apresenta benefícios fisiológicos, cognitivos e sociais. Tais ações contribuem diretamente para autonomia e qualidade de vida desse público. No entanto, existe uma mistificação social de que a prática de atividades físicas por esse grupo é algo desnecessário ou arriscado, o que pode reforçar ainda mais a falta de oportunidades para o acesso aos programas existentes ou a não criação de programas direcionados a essa população.

Mesmo com tantos desafios para incluir pessoas com deficiência nas práticas esportivas, é necessário que mais programas e projetos desenvolvam atividades e ações para uma prática mínima diária incorporada ao estilo de vida do indivíduo que possa auxiliar na obtenção da autonomia para realização das atividades diárias, prevenção de doenças hipocinéticas (por falta de movimento) e prevenção de comorbidades associadas à deficiência.

Com isso, notou-se que o melhor caminho para incluir, não apenas nas atividades físicas, mas em toda a sociedade, é ter a capacidade de entender que não se justifica inclusão por mero cumprimento de leis, e sim, por humanidade e ações planejadas em ambientes acessíveis.

Exemplo de Camocim

A areninha de Camocim conta com 200 alunos participando ativamente, sendo dois destes alunos com deficiência. Cristiano Ronaldo Nascimento dos Santos, nascido em Camocim, tem 15 anos, é filho de Ana Joice Santos do Nascimento e é um destes alunos. Ele apresenta cegueira nos dois olhos. Segundo relata a mãe de Cristiano, o esporte mudou a vida do jovem desde a implantação do projeto Esporte em 3 Tempos. “Meu filho mudou significativamente o seu modo de viver e está sempre empolgado com as aulas propostas pelo professor Maryo Jorge, no núcleo de Camocim. Cristiano mesmo com sua limitação visual participa sempre dos eventos, é um aluno dedicado e sempre é um dos primeiros a chegar aos treinos”, disse a mãe.

A inclusão é o conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos benefícios da vida em sociedade, permitindo a ocorrência de transformações nos ambientes físicos e principalmente na mentalidade das pessoas, inclusive da pessoa que possui necessidades especiais. A Educação Física se constitui em uma grande área de adaptação ao fornecer a oportunidade de participação dos alunos em atividades físicas adequadas às suas possibilidades, permitindo-os que sejam valorizados e se integrem num mesmo ambiente.

Em todo processo de inclusão, quem tem um maior papel de destaque é a família. Ela é o principal componente de uma rede de apoio importante para os alunos, informando e orientando o professor sobre as necessidades específicas do adolescente.

Para Cristiano Santos, o projeto lhe dá oportunidade de estar com pessoas que ele gosta. “Minha família e meus professores são de fundamental importância para mim, pois sou muito feliz nesse projeto em que o Governo do Estado do Ceará trouxe para Camocim, me dando oportunidade de estar fazendo o que eu gosto e estar do lado dos meus amigos que me compreendem e me ajudam de forma grandiosa”, afirmou o aluno.

Esporte adaptado

No Brasil, o esporte adaptado foi introduzido no final da década de 1950, passando de uma concepção de reabilitação física, social e psicológica para uma possibilidade de ascensão social por meio das práticas esportivas. A participação brasileira em eventos esportivos internacionais para Pessoas com deficiência ganha expressão desde então, tendo o país alcançado o sétimo lugar na última Paralimpíadas em 2020, na cidade de Tóquio.

O Projeto Esporte em 3 Tempos também teve sua representatividade nas Paralimpíadas Escolares no Ceará e Paralimpíadas Nacionais, em São Paulo, no ano de 2019, no qual a delegação cearense ficou em 8º lugar.

O Ceará vem evoluindo no fortalecimento de políticas públicas direcionadas para as pessoas com deficiência por meio de programas e projetos sociais, oportunidade ao lazer, acessibilidade em ambientes esportivos públicos e competições de esportes paralímpicos e adaptados. O projeto social Esporte em 3 Tempos se apresenta como uma possibilidade de lazer por meio das práticas esportivas nas areninhas em todo o Ceará, sendo o maior projeto social esportivo do Estado.

Estudos sobre deficiência no Ceará e no Brasil

As professoras Carla Samya Nogueira Falcão e Maria de Fátima Andrade, estudiosas do assunto, trabalham a inclusão com os dados referentes ao Brasil e ao Estado do Ceará. Conforme o último censo, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declara-se com algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possuir deficiência mental/intelectual. Nesta pesquisa não foram computadas as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e pessoas com transtornos mentais.

No Ceará, 2,3 milhões de habitantes apresenta pelo menos uma das deficiências investigadas, o que corresponde a 27,7% da população.

Em relação ao tipo de deficiência, responderam que não consegue de modo algum ou apresenta grande dificuldade visual (16%), motora (9,6%), mental (5,4%) e auditiva (4,9%). Ao analisar o quesito idade das pessoas de cinco anos ou mais, com pelo menos uma das deficiências investigadas e seu grau de instrução, 28,5% dos entrevistados não são alfabetizados, perfazendo um total de 660 mil habitantes, com o direito constitucional a educação negligenciada.

Constatou-se no Ceará um aumento de 111% no número de matrículas de alunos com deficiência entre 2012 e 2022, passando de 31.626 para 66.741 matrículas. A taxa de participação das matrículas em educação especial em relação ao total de matrículas na educação básica subiu de 1,33% para 3,13% no período analisado. Notou-se ainda que a maioria desses estudantes são atendidos em salas comuns do ensino regular e na Educação de Jovens e Adultos (EJA), observando um aumento de 134%, segundo o Inep.

Reiteram as professoras que a inclusão não é afirmar que somos todos iguais, e sim, celebrar a nossa diversidade e as diferenças com respeito. A inclusão significa que é possível participar de qualquer atividade todos juntos. O processo inclusivo visa inserir na sociedade pessoas excluídas e marginalizadas devido a sua condição física, ou social, gênero, etnia, orientação sexual e etc.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), instituída em 2015, assegura a igualdade de oportunidades e promove o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiência. Entre esses direitos está o Esporte e Lazer.