Asas da Aventura: Ceará Vira a Meca do voo livre

27 de novembro de 2009 - 09:05

Ceará desponta como espécie de Havaí aéreo para prática do esporte radical com asas atraindo adeptos de todo o mundo

Atualmente, no Ceará, eles já são mais de 100. Homens e mulheres, dispostos a reviverem o Sonho de Ícaro, da mitologia grega, mas sem desfechos trágicos. Em suas asas sintéticas, montadas em estruturas de metal leve e resistente, ou simplesmente infláveis com a penetração das correntes de ar, saltam em busca de diversão e de conquistas, a maioria, pessoais. São os pilotos de asa delta e parapente. Eles podem ser vistos com frequência, nos fins de semana, na rampa de Pacatuba, a 20 km e Fortaleza ou um pouco mais distante, na cidade do voo livre, Quixadá, no Sertão Central.

O esporte é praticado no Estado desde o início da década de 80. Surgiu mais precisamente em 1985, com Paulo Rocha. Apaixonado por aventura, após aprender a voar, o cearense resolveu retornar do Rio Grande do Sul para sua terra natal e na cidade de Maranguape, com o apoio do Banco do Brasil e do BNB, fundou a primeira escola de voo do Nordeste.

Em seguida ele criou o 1º clube de voo livre do Estado. Naquela época a asa delta era o único equipamento utilizado nos voos esportivos sem utilização de motores. Quase 10 anos mais tarde, em 1993, outro apaixonado por voos, Claudio Frate, hoje morando em Brasília, trouxe outra novidade para o esporte radical praticado nos céus do Ceará.

Uma enorme mochila, com uma espécie de paraquedas, mas que pode ser controlado pelo o homem, era o parapente ou paraglider, como é conhecido internacionalmente o aeroplano de asa em forma de arco.

Meruoca

Três anos mais tarde os dois modelos começavam a projetar a Terra do Sol no cenário mundial do esporte aéreo. Era realizada a primeira edição do XCeará, na Serra da Meruoca.

Pouco depois outros dois esportistas, os pilotos de asa delta Chico Santo´s e Antonio Almeida, idealizadores da famosa e tradicional competição internacional de voo livre encontravam a rampa do Urucum, onde um pouco mais acima foi construído o Santuário de Nossa Senhora Rainha do Sertão, cerca de 6 km do Centro de Quixadá. Eles ficaram fascinados com a viabilidade das correntes de ar, ideais para atingir longas distâncias. Foi o suficiente para atraírem pilotos de todo o mundo.

Meses

As condições climatológicas mais favoráveis à prática do voo livre ocorrem nos meses de outubro e novembro. Mas durante todo o ano é possível aprender, praticar e apreciar os voos em todo o Estado, considerado por quem pratica esse tipo de esporte o Hawai do voo livre.

No litoral, as praias de Morro Branco, Canoa Quebrada e Redondo são as mais procuradas pelos pilotos, a maioria cearenses. Também é comum ver as caravanas cortando as estadas do Interior. Onde houver um morro ou um platô para decolagens, eles estão lá.

Eletrônica

Com o avanço tecnológico, principalmente na era da informática, Antonio Almeida, um dos idealizadores e promotores da competição, não descarta a possibilidade do espetáculo aéreo ser assistido a partir dos próximos anos através da web.

Além do spot alguns pilotos já utilizam câmeras digitais e filmadoras. Essas imagens poderão aproximar os competidores do público, avalia.

Assim como no Campeonato Mundial de Pilotos de Fórmula 1, em breve será possível ver as imagens de dentro de um cokpit, a 3,5 mil metros de altura.

Campeonato

Ele também acena para a possibilidade do Ceará passar a ser incluído no calendário oficial da entidade internacional que promove o Campeonato Mundial de Voo Livre, a partir de 2012.

 

ÚLTIMO DIA

Competição segue com boas disputas

O open internacional chega ao seu último dia de competição (27/11/09) com disputa acirrada entre o carioca Eric Vils e o paulista Marcelo Ferro, na categoria asa delta. Ferro alcançou 345 km, superando em 5 km a maior distancia livre atingida pelo compatriota Vils.

Na outra modalidade, no parapente, o canadense Rene Marion superou o francês Didier Etienne, conquistando a diferença mais expressiva entre os concorrentes.

Ele atingiu 48 km a mais que Etienne. Ontem (26/11/09), ninguém ganhou distância. Os ventos estavam muito fortes.

Por conta dos resultados o pódium ainda está indefinido. Os competidores aguardam com expectativa uma boa janela de voo na manhã desta sexta-feira (27/11/09). Este ano as correntes termais ascendentes estão levando os pilotos para o Piauí. Embora a maioria tenha como objetivo a superação das marcas pessoais, não escondem a possibilidade de superarem o recorde mundial triplo de parapente, pertencente aos brasileiros Frank Brown, Rafael Saladini e Marcelo 'Ceceu' Prieto. Em 2007 eles voaram 461,8 km, no XCeará.

Nos últimos cinco anos outros três recordes mundiais foram batidos na competição internacional. Os dois primeiros em 2005. A tcheca Petra Krausova alcançou a marca de 302,9Km em distância livre de parapente. Na mesma competição chegou a 247,7 em distância declarada.

Ela só foi superada este ano, pela brasileira Kamira Pereira. A carioca conquistou 320,2 km e 287 km, respectivamente.

Os recordes foram batidos no meeting de Quixadá, duas semanas antes do XCeará. Kamira não pode ficar para o open. As férias terminaram uma semana antes. Ela é técnica judiciária em São Paulo.

 Krausova tem até hoje para superar a marca da brasileira e manter o título de melhor do mundo. A russa Marina Olexina também está na disputa.

 

Fique por dentro 

Origem do voo livre

O voo livre encanta o homem desde a mitologia grega com Ícaro, porém, foi por volta de 1871 que o alemão Otto Liliental construía planadores os quais ele próprio testava, vindo a realizar mais de 2000 voos em sua vida. Faleceu em um acidente em 1896.

No final da segunda guerra mundial Francis Rogallo passa a estudar um novo tipo de asa que não era rígida. Seus primeiros trabalhos, ele realiza em casa, com sua esposa Gertrude, e para isso teve de instalar grandes ventiladores em sua sala. Em 1951, Rogallo e a esposa registram a patente da primeira asa flexível.

Em 1974 o voo livre chega ao Brasil através do francês Stephan Dunoyer que realizou a primeira decolagem no Cristo Redentor e também realizou vários voos em diversas cidades do Brasil.

O primeiro brasileiro a voar foi o carioca Luis Claudio Mattos. O primeiro brasileiro a conquistar um campeonato mundial foi Pedro Paulo Lopes, o Pepê, em 1981, no Japão.

As cidades brasileiras de Patu (RN), Quixadá (CE), Governador Valadares (MG), Andradas (MG), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Sapiranga (RS), Igrejinha (RS), Santo Antônio do Pinhal e Atibaia (SP) são locais de renome internacional na prática do esporte.

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR

(Fonte: http://www.diariodonordeste.com.br)